Siglas Poveiras

As siglas poveiras eram uma forma de escrita rudimentar e primitiva utilizada pela classe piscatória da Póvoa de Varzim. A intensidade da atividade pesqueira fez surgir o sistema de comunicação visual, plenamente dominado pela comunidade, mas desconhecido fora dela. Embarcações, artecfatos de pesca e até o pescado em si eram identificados pelo código. Cada novo pescador que ingressava na comunidade precisava desenvolver sua marca, a partir da estilização de objetos do cotidiano – como o barco, o sarilho ou o arpão – e de forma a não se confundir com a marca de outro membro.

Desde o início do século XX, as Siglas Poveiras são objeto de estudo. Já na abertura do Museu Municipal, em 1937, António Graça, seu fundador, dedicava-lhe especial atenção. Antropólogos como Octávio Lixa Felgueiras e Fonseca Cardoso associaram a origem da sigla à cultura nórdica, pela identificação de indícios de eventual passagem e fixação de vikings na Póvoa.

Uma vez criada, a marca passava a ser uma assinatura familiar, uma espécie de brasão, que assinalava os pertences das famílias. Serviam também para registar casamentos, inscrevendo-se a marca nos altares das igrejas, identificar jazigos ou mesmo para comprovação de dívidas.
 
Na tradição poveira, o herdeiro principal da família era o filho mais novo, pois era esperado ser esse o filho a tomar conta dos pais quando esses se tornassem idosos. Por esse motivo, as siglas originais passavam do pai para o filho mais novo, o herdeiro. Aos restantes filhos era atribuída a mesma sigla acrescida de traços, chamados de “pique”. O número de traços correspondia, então, à ordem de nascença dos filhos. Portanto, o filho mais velho teria um traço, o segundo dois e por aí em diante, até chegar ao filho mais novo que não teria nenhum traço, ficando assim com o mesmo símbolo que o seu pai.

Com o aumento da alfabetização e a modernização das técnicas e instrumentos de pesca, as siglas caíram em desuso nas primeiras décadas do século XX. Seguem presentes como identidade da comunidade piscatória e ostentadas, muitas vezes, como emblemas de famílias, mesmo que se tenham quebrado as ligações com a pesca.

Como referência cultural da Póvoa de Varzim tem enorme apelo para ser aplicada em peças originais e contemporâneas de design, artesanato e peças publicitárias. Recentemente, um novo modelo de placa toponímica para algumas ruas da cidade foi adotado, referenciando-se à sigla. Com esta iniciativa, a Câmara Municipal promove a preservação e valorização da herança linguística e cultural poveira, de uma forma original e única.

O Museu Municipal e a Biblioteca estão, permanentemente, trabalhando com a memória e a investigação sobre as siglas poveiras. O tema desperta grande interesse de outras comunidades com tradições marítimas, tendo sido objeto de exposição de itinerância mundial e de estudiosos nos campos da história da arte e da semiótica.
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